Grito de impotência
Quantas vezes não queremos traduzir por palavras este ou aquele pensamento, este ou aquele sentimento, esta ou aquela emoção, esta ou aquela frustração, esta ou aquela abstração… por entre uma desmedida sensação de impotência e desespero…
Quantas vezes não nos falta a palavra “eleita”, a que “tudo diz da forma mais pura e perfeita”, a mais abrangente, o conceito que realmente pretendemos transmitir ao destinatário…
Criamos estes signos na expectativa de que alguém os interprete conforme o espelho do pensamento ou do sentimento…
Independentemente do significado, cada um faz a sua interpretação, diversa, não apenas da palavra que perante os olhos se depara, mas também da realidade que através dela se pretende transmitir…
Uns analisam a realidade fonética, outros a realidade abstrata[1] sob as mais diversas conotações associativas…
Grande parte sentirá, como eu, uma estranha dor por toda aquela gente, uma impotência desmedida por querer e não poder ajudar…
Talvez não seja suficientemente perfeito ao ponto de traduzir fielmente, pela palavra, o que realmente sinto…
Talvez não existam conceitos sensações ou ideias definíveis; apenas simples relações entre os signos e os seus significados que simplesmente podemos aprofundar…
Podemos aprender[2] através da linguagem… mas, a linguagem, “não é realmente o Mundo” …
O Mundo são os que neste momento sofrem do outro lado do planeta e neste momento continuam a morrer às mãos de assassinos insensíveis e inconscientes…
O Mundo é este grito de impotência[3], igual ao grito de tantas pessoas por esse mundo, despromovido das próprias palavras que estão de ler:
Salvem Timor!
*
Alguém ouviu este grito?!
Ninguém!
Ninguém, porque é, obviamente, apenas um grito literário…
É, no entanto, um gigantesco grito de indignação, perante um povo em sofrimento atroz, que morre e continua a morrer perante a ‘nossa’ indiferença… -ou pelo menos perante a indiferença daqueles que algo mais podem fazer, numa flagrante violação dos mais elementares direitos humanos, como nunca antes se tinha visto desde o tempo do Nazismo.
Alguém ouviu o meu grito?!
Ninguém!
Ninguém porque é, obviamente, apenas um inútil grito literário…
Mas se juntarmos todos os nossos inúteis gritos literários… todos os nossos inúteis gritos de impotência, talvez alguém que possa ouvir e agir, faça algo útil…
Talvez possamos salvar vidas em Timor!
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Autor: Carlos Silva
Data: 1999-09-02
Imagem: Internet
Obs: Direitos reservados.
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