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0197. Delito de opinião


Oliveira Salazar em Portugal…

Francisco Franco em Espanha…

Ambos os ditadores concentraram o poder absoluto durante praticamente quatro décadas erguendo regimes totalitários, militaristas, ultranacionalistas e sobretudo ultracatólicos.

“Deus, Pátria e Família” eram os seus lemas!

Se em Espanha a transição ocorreria em 1975 com a morte do caudilho

Em Portugal, a mudança, seria com a “Revolução dos Cravos, em abril 25 do mesmo ano.

Na altura da mudança associava-se o regime de Salazar à célebre trilogia dos “três efes”:

“Fátima, Futebol e Fado”!

Dizia-se que eram os “efes” que uniam e alimentavam o pobre povo português… a religião católica, o futebol, e sobretudo Amália, a grande figura do Estado Novo!

Seriam sobretudo tempos de mudança…

De democratização, de descolonização e de desenvolvimento!

Tivesse eu (se na época vivesse) a ousadia de apelidar qualquer um destes regimes como “machista”, “antifeminista” ou “homofóbico” e, no momento, estaria terminantemente condenado ao fuzilamento (ou queima) em plena praça publica…

Tivesse eu (se na época vivesse) a ousadia de proclamar ou publicar este meu “Delito de opinião” e certamente ninguém hoje, agora, o estaria a ler! Seria imediatamente riscado a “lápis azul” … o célebre lápis que expurgava implacavelmente todas as áreas da sociedade.

Criticar o Estado ou a Igreja… -qual liberdade de expressão! -mais do que crime, era “pecado mortal” que violava a moral e os bons costumes!

A história, a religião, os costumes, as crenças e as tradições eram ícones intocáveis e inquestionáveis; precocemente incutidos e severamente impostos. A igreja católica era o fiel zelador da sua aplicação e concretização. Refreava praticamente todo o sistema educativo liberal ao mesmo tempo que exaltava os valores nacionalistas.

No Estado Novo, a mulher era subjugada a tarefas domésticas, a cuidar dos filhos e normalmente subordinada ao marido a quem tinha que pedir autorização para aceder ao ensino superior ou a qualquer profissão remunerada -tudo em nome da tradicional família cristã. Não tinha direito a opinar e normalmente era censurada se vestia de forma ousada ou diferente da padronizada. O seu comportamento era considerado desviante em caso de adultério ou de vício sexual, sendo consequentemente punida e marginalizada.

As “autoridades religiosas” controlavam escrupulosamente a moral pública e sexual. Reprimiam e perseguiam sobretudo os homossexuais. A sexualidade (ao contrário do que recentemente o atual líder religioso proclamou), era vista como meio de procriação… um pecado mortal se não praticada estritamente no âmbito familiar.

Muito sangue, suor e lágrimas foram derramadas…

Repostos finalmente os alicerces da democracia…

Soltas finalmente as amarras da liberdade, da igualdade e da racionalidade…

Eis que finalmente posso soltar este meu “Delito[1] de opinião”!


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 Autor: Carlos Silva
 Data: 2020-09-17
 Imagem: Internet
 Obs: 
 Direitos reservados. 
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[1] Direito

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