Sobre o livro “A Bíblia”
Que palavras para tão Desmedido-Pensamento?!
Urge soltar tão repentina inspiração neste primeiro dia do Novo Milénio!
Algo desperta a minha atenção… por momentos algo suspende a minha emoção…
Vou ao milénio passado[1] buscar um livro…
“A Bíblia” …
Ao abri-lo[2], simplesmente parar recordar o que o outrora adolescente interpretara e contrapor precisamente com o que agora pensava, reli as primeiras palavras do preâmbulo…
“Este é um livro de verdades absolutas, de verdades para todas as gerações”.
“Há certezas eternas, garantidas por Deus. Elas são a segurança do nosso existir.”
Parei imediatamente!
Parei impelido pela necessidade de refutação…
“Meu Deus!…”[3] como pode um mero livro deter Verdades Absolutas?
Fechei imediatamente!
Regresso ao presente…
Ao presente Milénio!
Ao novo Milénio!
Regresso ao debate interior sobre a insipiência… quão vasto caminho…
Regresso ao não-saber… ao debilitar esta distância desmedida…
É espantoso como o sabor a inverdade me desperta o debate interior!
Porque sinto que toda esta cegueira[4] prejudica gravemente a inteligência humana?
Porque sinto que todos estes “milagres” são inequivocamente inverdades tradicionalmente adquiridas?
Porque sinto que tudo não passa evidentemente de ilusões?
Porque sinto que o ser-religioso, não passa de um ilusionado? Um estulto aculturado… uma criança adulta cuja perceção da realidade se assemelha, não ao que realmente é, mas ao que deseja que seja… e ao que deseja ser!
Observo e constato este mar de lágrimas e sangue derramados…
Observo e constato este desumano e horroroso sofrimento …
Observo e constato estes ódios e guerras fratricidas…
Observo e constato estas crucificações e mutilações aberrantes…
Uma teia milenarmente enraizada na sociedade e na cultura, associada e controlada pela ideia de Bem e Mal[5]… pela explicação sem explicação para toda a desgraça, pela absurda necessidade de perfeição… pela obcecada aspiração de eternidade e imortalidade…
Tudo terá começado com a adoração de um suposto “deus-Sol” pelas mais antigas civilizações…
Porém, nestes dois últimos milénios, assistiu-se à transmutação pelas mais diversas crenças…[6] dos rituais e sobretudo a comutação da divindade[7]… que passou a assumir a figura humana e a sua adoração divina… cega… única… e obrigatória!
O pão que alimenta o espírito…. sobretudo dos mais pobres de espírito…
Porque nunca se fundamentou ou impôs este “espírito-sagrado” durante tantas e tantas gerações… até às portas do novo Milénio?
Obviamente por não existir!
Obviamente por despertar a negação ao natural espírito humano… ao livre e deslumbrante pensamento humano!
Jamais o que não é pode ser!… por mais perfeito que o façamos querer ser ou parecer!
Basta observar e constatar o quanto a “religião” tem afastado o ser humano do seu meio natural…
Basta observar e constatar como é hoje usada a “religião”, não pelos “ditos- cristãos”, fiéis seguidores que a praticam em nome do bem-estar da humanidade, mas sobretudo, pelos “ditos-humanos” que, tendo a perfeita noção da sua inexistência e do seu poder, a usam discricionariamente, para submeterem, controlarem e manipularem amplas massas sociais em seu próprio proveito e benefício, acabando por, em seu nome, criar verdadeiras monstruosidades…[8], ideais profusa e cegamente seguidos…
Procurando possíveis respostas …
Este mero exercício de racionalidade é apenas uma escolha natural das hipóteses mais prováveis, ou aparentemente mais credíveis…
Apenas uma mera opinião. Decerto não mudará o percurso do pensamento e da ação humana… esse não é o espírito[9]… apenas observar e constatar… respeitando todos os pensamentos desmedidos…
Fechei o livro.
No meu Desmedido Pensamento observo e constato… e neste novo milénio, abrem-se outros horizontes…
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Autor: Carlos Silva
Data: 2001-01-01
Imagem: Carlos Silva
Obs:
Direitos reservados.
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[1] Estante
[2]A segunda vez que abri… na primeira desistira de ler…
[3]É caso para dizer!
[4] Dita religiosa
[5] Paraíso e Inferno
[6] A pagã… a cristã… a muçulmana…
[7] Sol
[8]Cruzadas, Inquisição, Jihad
[9] Objetivo
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