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0041. “Religião”

“Religião”

0041.Religião b

“Religião…”

Penso-a, logo existe!

Não a penso, logo não existe!

Elementar caro ser humano…

*

De “religião” …

Passa subjetiva imagem mental…

Na efemeridade mental de minha mente…

Existe fugazmente enquanto tal…

Tal como passa…

Tal como penso…

Assim que a deixar de pensar, deixará de existir…

Assim que a deixar de pensar, deixará de existir em mim…

Tal como deixará de existir em todas as mentes que a pensaram…

E deixaram de pensar…

Em todas as mentes que existiram…

Em todas as mentes que existem…

Em todas as mentes que existirão no futuro!

*

É impossível não observar a evolução das espécies e a sua seleção natural… as ossadas inertes, são provas vivas… irrefutáveis e evidentes!

Fascina-me a forma como vivem e sobrevivem todas as espécies… em especial a minha espécie… -sobretudo nestes últimos anos em que faço parte desta assombrosa matéria viva!

Desconheço como tudo começou…

Desconheço praticamente tudo…

E apenas sei como termina.

*

Ainda sei tão pouco…

Mas enquanto vou aprendendo sobre a origem da vida na terra, enquanto vou desvendando as invisíveis “partículas”, enquanto vou despertando para a realidade… vou sobretudo tomando consciência das futilidades e ilusões que devo ignorar…

*

Nasci selvagem…

Não pertenço a nada nem a ninguém… muito menos a supostas “religiões” …

Desde que o cordão umbilical se soltou que sou um novo ser, uma nova mente livre de pensar…

*

Recordo um dos hinos da liberdade em Portugal:

“Uma gaivota voava, voava… asas de vento, coração de mar / como ela somos livres, somos livres, de voar…”

E questiono-me:

Porque não somos ainda livres de voar?

Porque não somos ainda realmente livres de pensar?

Porque criamos e adoramos ainda supostas divindades e continuamos a aniquilar a nossa genuína natureza?

Porque não somos ainda livres como a “gaivota[1]”?

Porque não somos ainda “gaivota”?

E é tão fácil responder:

Nascemos e crescemos rodeados de correntes ancestrais que nos prendem a natureza da vida e não nos deixam voar plenamente!

*

Nascemos e crescemos rodeados de correntes ancestrais que nos prendem a natureza…

Somos sistematicamente conduzidos para o transcendental quando sofremos ou não realizamos as mais elementares aspirações terrenas, no entanto, do desejo à realidade, por vezes, existe uma distância abissal, eventualmente antagónica… e não temos discernimento para a distinguir… cálice-milenar

Continuamos a alimentar um suposto ser ajustado ao desejo de salvação…

Enquanto não tivermos capacidade para distinguir e escolher livremente o caminho, continuaremos a ser prisioneiros sem cela…

Por isso quanto mais depressa nos libertarmos e alcançarmos essa capacidade de perceção, mais depressa agiremos sobre a própria realidade pessoal e global…

*

Deparo comigo a observar esta admirável massa cinzenta… e emociona-me os seus (meus) pensamentos, as suas (minhas) emoções…

Por vezes fico maravilhado com a sua (minha!) forma, a forma como evolui e como (me) conduz para estes admiráveis mundos (exterior/interior) que a (me) envolvem…

Por vezes fico devastado ao imaginar a sua degeneração, a falência do seu corpo… o sofrimento… a mágoa da perda da sua própria consciência…

*

As leis físicas são a minha vida, a minha religião… por vezes a minha ilusão e desilusão…

São sobretudo a realidade da sua (minha!) admiração e inspiração!

Não consigo deixar de atribuir a sua origem (vida) a fenómenos físicos e a interações de partículas que ao longo do tempo foram evoluindo/selecionando até este atual e complexo produto sob forma de corpo/mente provida de pensamentos e emoções…

*

Conforma-me ter nascido e vivido com o privilégio de pensar livremente…

Conforma-me a consciência de poder sempre optar pelo mais plausível…

E a verdade é que tal me permite levar a simples e estável vida que sempre sonhei, realizada praticamente a todos os níveis…

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Autor: Carlos Silva
Data: 2012-07-05
Imagem: Internet
Obs:
Direitos reservados. 
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[1] Somos Livres: Canção de 1974 interpretada por Ermelinda Duarte
 









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