Algures numa pequena aldeia do interior questionei uma pobre e inocente criança que brincava em plena rua, próximo de uma igreja…
Questionei… -pressupondo que responderia -“se sabia quem “deus” seria … e se alguma vez, visto, o teria…”.
Confesso que esperava uma simples resposta, consonante a sua tenra idade, que mais de 10 não seria, e contexto social em que vivia por influência familiar e da própria Igreja Católica…
Mas, não!
Qual não seria a minha surpresa, quando uma voz fina e encantadora, irrompe no silêncio de forma absolutamente sincera e explicita...
-Não sei quem é!... nunca o vi!
Sorri perante o seu sorriso… sorri também para mim.
Naturalmente que acabara de deduzir o obvio…
Nenhum “deus” invisível aparece a uma inocente criança de 9 ou 10 anos… -a não ser que se trate do “milagre de Fátima”, obviamente exceção à regra!
Nenhum “deus” invisível aparece a quem o desconhece!
Nenhum “deus” invisível aparece a quem não o vê ou não ouve falar dele!
Os “deuses” invisíveis apenas aparecem aos fiéis que professam os mesmos cultos.
Aparentemente “Cristo” e a “Senhora” apenas aparecem aos cristãos…
Aparentemente “Alláh” apenas aparece aos islamitas…
Aparentemente “Buda” apenas aparece aos budistas… e certamente nenhum destes a algum aborígene!
Eventualmente, os “deuses do Olimpo” que formavam o panteão da antiga Grécia... Zeus, Hera, Poseidon, Atena, Ares, Deméter, Apolo, Ártemis, Hefesto, Afrodite, Hermes e Dionísio… seriam mais liberais… e apareciam a toda a gente!
Sorri e continuei o meu caminho…
Como é sublime a voz imaculada e descontaminada de uma criança em plena liberdade!
Criança ou adulto… apenas conhece o que aprende e vê... concebendo o seu “deus” de acordo com a doutrina religiosa do local onde nasce e cresce…
O homem cria e transporta em si a sua crença!
“Deus” é uma criação humana, como muitas outras criações que nasceram de medos e aspirações humanas!
Tudo o que percecionamos está na nossa mente!
Sem homem não há “deus” … não há nada!
Autor: Carlos Silva
Data: 2023-09-06
Imagem: Internet
Obs.:
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